quarta-feira, 1 de junho de 2016

Vítima de estupro em Bom Jesus é constrangida na rua, diz delegado

Quatro adolescentes foram apreendidos e um rapaz de 18 anos foi preso.
Primeira audiência do caso deve ocorrer nesta quarta-feira (1º).


Quatro adolescentes suspeito de estupro coletivo são soltos (Foto: João Vitor/Portal B1) Investigação do crime está a cargo da delegacia de Bom Jesus (Foto: João Vitor/Portal B1)

Em novo depoimento à polícia, a vítima de estupro coletivo em Bom Jesus, no Sul do Piauí, revelou que vem sofrendo constrangimentos após o fato. Desde o dia do crime, a garota tem sido acompanhada por psicólogos. O estupro ocorreu no dia 20 de maio e a primeira audiência do caso deve ocorrer nesta quarta-feira (1º).
"Várias pessoas foram à rádio comunitária falar que a menina teria provocado o estupro, sem contar os populares que a apontam no meio da rua e a julgam. Isto é um absurdo e quem faz isto corre risco de processo", falou o delegado Aldely Fontineli, responsável pelas investigações.
Quatro adolescentes foram apreendidos e um rapaz de 18 anos preso por suspeita de participação no crime. No entanto, após decisão judicial, os menores foram liberados da delegacia. Segundo a polícia, a garota estava bebendo junto com os suspeitos horas antes do fato acontecer.
Durante o depoimento, a garota contou ainda ao delegado que já teria tido um caso por duas semanas com um dos adolescentes suspeito de participação no estupro, mas que teria terminado com ele cinco dias antes do fato ocorrer.
Hospital de Bom Jesus (Foto: João Vitor/Portal B1) 
Hospital de Bom Jesus (Foto: João Vitor/Portal B1)

A vítima foi encontrada em uma obra abandonada no dia 21 de maio, amarrada e amordaçada com a própria calcinha. Ela chegou a contar que foi conduzida ao local e violentada por cinco rapazes. Populares socorreram a vítima, que foi encaminhada para o hospital de Bom Jesus e liberada após avaliação psicológica.
"A vítima contou que namorou umas duas semanas com um dos adolescentes e cinco dias antes do crime terminou com ele, porque o rapaz insistia em ter relação sexual e a garota não queria. Ela voltou a confirmar que bebeu com os cinco suspeitos, depois foi conduzida até a obra abandonada e violentada por todos eles", disse o delegado.
Aldely Fontineli lamentou a liberação dos quatro adolescentes pelo juiz Eliomar Rios Ferreira, mesmo com o laudo médico comprovando o estupro. De acordo com o delegado, a soltura tem incentivado certos constrangimentos sofridos pela garota.
Além dos cinco suspeitos e a garota, outras 10 pessoas foram ouvidas pela polícia: os policiais que fizeram a apreensão dos adolescentes, os socorristas do Samu, moradores que encontram a vítima desacordada e dois donos de quitinetes que viram os suspeitos entrando na obra abandonada.
Para o delegado, todas as provas colhidas até o momento são suficientes para comprovar a participação dos adolescentes no crime. Ele contou que um recente exame feito na vítima encontrou sêmen no canal vaginal e este pode confirmar os autores do estupro.
"Vou anexar todas as provas no laudo que será analisado pelo juiz na primeira audiência nesta quarta-feira (1º). Os cinco suspeitos serão novamente ouvidos e espero que agora seja autorizado a internação na unidade socioeducativa. Acredito que eles soltos correm risco de ter a integridade física ameaçada", completou Aldely Fontineli.
Insegurança
A promotora de Justiça Gabriela Santana ficou surpresa com a decisão do juiz em liberar os menores, mesmo com o laudo médico confirmado o abuso sexual na garota de 17 anos. Apenas o jovem de 18 anos foi mantido preso e encaminhado ao presídio da cidade.
"Recebi com muita surpresa a notícia, porque eu entendo que há prova da materialidade e indícios suficientes de autoria dos suspeitos no estupro. Além disso, acredito que a soltura dos adolescentes traz insegurança para eles e a sociedade, além disso pode atrapalhar a investigação", comentou.
Delegado Aldely Fontineli  (Foto: João Vitor/Portal B1) 
Delegado Aldely Fontineli (Foto: João Vitor/
Portal B1)

Gabriela Santana solicitou no dia 25 de maio a internação dos quatro adolescentes para o Centro Educacional Masculino (CEM) em Teresina. O pedido foi negado pelo juiz Eliomar Rios Ferreira, que liberou os menores com a justificativa deles terem bons antecedentes e a soltura dos suspeitos não representaria risco para a sociedade e nem prejudicaria o andamento do processo.
"Eu pedi a internação dos adolescentes para manutenção da ordem pública, já que o crime chocou toda a cidade. Além disso, o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] prevê a internamento nestes casos para garantir a segurança dos menores também. Ainda não fui intimada, vou analisar o caso e se possível recorrer da decisão", completou a promotora.
Para o delegado Aldely Fontineli, responsável pelo caso, a liberação dos quatro adolescentes também foi motivada pelo excesso de prazo dado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que permite a permanência de menores na delegacia por até cinco dias. Ele revelou ao G1 não ter dúvidas da participação dos suspeitos no estupro coletivo.
"O jovem assumiu ter dito conjunção canal com vítima e detalhou a participação dos demais no crime. Inclusive dois dos menores, no calor da emoção, também confessaram o estupro e no dia seguinte apresentaram uma outra versão idêntica. Não há dúvidas do envolvimento dos adolescentes, a própria vítima confirmou que eles também cometeram o crime. Resta agora esperar o resultado dos exames dos espermas coletados na garota, que vão confirmar o estupro coletivo", declarou.
A ONU Mulheres divulgou um comunicado na quinta-feira (26) solidarizando-se com as duas adolescentes que foram vítimas de estupro coletivo nos últimos dias no Brasil, uma no Rio de Janeiro e outra em Bom Jesus, Piauí. O braço da organização internacional no Brasil pede à sociedade brasileira "tolerância zero a todas as formas de violência contra as mulheres e a sua banalização”.

Menores negam participação
Em depoimento para promotora de Justiça Gabriela Almeida de Santana, os adolescentes negaram o estupro coletivo e relatam ter visto a garota sendo abusada pelo jovem de 18 anos, que estava na companhia deles. Eles também confirmaram que a vítima ingeriu bebida alcoólica e estava desorientada.
“Eu questionei se eles não fizeram nada para impedir e os quatro declararam achar normal o ato, mesmo com a vítima embriagada e sem condições de responder por si. Eles relataram com riqueza de detalhes a vítima reclamando da sensação de tortura e vomitando. Só que eu achei estranho alguém ir em uma obra abandonada para apreciar a paisagem, como os adolescentes alegam. Tudo indica que os menores combinaram a mesma versão e foram ao local para fazer uso de droga", revelou a promotora.

Depoimento da vítima
Gabriela Almeida de Santana revelou ter ouvido também a garota, que ainda está em estado de choque. A vítima disse não se recordar o que aconteceu depois de ter passado mal e confirmou que todos ingeriram bebida alcoolica, sendo que dois dos suspeitos usaram droga.
"O laudo médico confirmou o abuso, mas somente um exame de DNA vai provar o estupro coletivo. Já conversei com o delegado e vamos solicitar o teste, assim como ouvir testemunhas e os socorristas do Samu. Pedi também ao Creas a realização de um estudo social das famílias desses menores para saber em quem meio eles estão inseridos e como isto pode influenciar na pena", disse.

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