quarta-feira, 1 de junho de 2016

Juiz ouve durante audiência os quatro suspeitos de estupro coletivo no Piauí

Adolescentes são ouvidos em audiência no Fórum Criminal de Bom Jesus (Foto: João Vitor/Portal B1)

Os quatro adolescentes suspeitos de participar do estupro coletivo contra uma jovem de 17 anos em Bom Jesus, Sul do Piauí, voltaram a ser ouvidos na manhã desta quarta-feira (1º), desta vez pelo juiz Eliomar Rios Ferreira. A primeira audiência do caso acontece no fórum da cidade a portas fechadas, com participação apenas dos pais dos menores, o delegado do caso e um promotor do Ministério Público Estadual.

Quatro adolescentes foram apreendidos e um rapaz de 18 anos preso por suspeita de participação no crime. No entanto, após decisão judicial os menores foram liberados da delegacia. Segundo a polícia, a garota estava na companhia dos suspeitos em um bar horas antes do fato acontecer.
Segundo a promotora Justiça Gabriela Santana, responsável pelo caso, na primeira audiência o juiz vai analisar a denúncia do Ministério Público Estadual contra os adolescentes e ouvir a versão dos suspeitos sobre o estupro coletivo. Na possibilidade de novos fatos que comprovem a participação dos rapazes no crime, o magistrado pode aprovar a internação socioeducativa.

"Quando adolescentes são apreendidos em flagrantes, o Ministério Público tem o prazo de 24 horas para fazer a denúncia formal e depois disso o juiz realiza uma nova apresentação dos menores para ouvir a versão deles. Esta não é uma audiência de instrução e julgamento dos envolvidos, até porque falta ouvir a vítima e produção de provas", explicou.

A vítima foi encontrada em uma obra abandonada no dia 21 de maio, amarrada e amordaçada com a própria calcinha. Ela chegou a contar que foi conduzida ao local e violentada por cinco rapazes. Populares socorreram a vítima, que foi encaminhada para o hospital de Bom Jesus e liberada após avaliação psicológica.

Ao G1, Gabriela Santana revelou que vem analisando a possibilidade de recorrer ou não da decisão de soltura dos adolescentes. Conforme a promotova, no processo há provas da materialidade e indício de participação dos menores no estupro coletivo.

"O delegado ficou de me enviar novos depoimentos, que podem servir para anexar ao pedido de internação dos adolescentes", completou.

A promotora já havia declarado ter ficado surpresa com a decisão do juiz em liberar os menores, mesmo com o laudo médico confirmado o abuso sexual na garota de 17 anos. Apenas o jovem de 18 anos foi mantido preso e encaminhado ao presídio da cidade.


O delegado Aldely Fontineli, responsável pelo caso, também acompanha a audiência com os adolescentes e contou ter apresentado o novo laudo policial ao juiz Eliomar Rios Ferreira, com os depoimentos de mais testemunhas e a nova versão dada pela vítima.
"Temos os depoimentos dos policiais que fizeram a apreensão dos adolescentes e a confição dos envolvidos no crime, pessoas que viram os suspeitos entrando na obra, relato da própria vítima sobre o caso que teve com um dos menores, além do exame que comprova o estupro e sêmen encontrado no canal vaginal", pontuou.

Novo depoimento da vítima
Em novo depoimento à polícia, a vítima de estupro coletivo em Bom Jesus, no Sul do Piauí, revelou que vem sofrendo constrangimentos após o fato. Desde o dia do crime, a garota tem sido acompanhada por psicólogos. O estupro ocorreu no dia 20 de maio.

"Várias pessoas foram à rádio comunitária falar que a menina teria provocado o estupro, sem contar os populares que a apontam no meio da rua e a julgam. Isto é um absurdo e quem faz isto corre risco de processo", falou o delegado Aldely Fontineli, responsável pelas investigações.

A ONU Mulheres divulgou um comunicado na quinta-feira (26) solidarizando-se com as duas adolescentes que foram vítimas de estupro coletivo nos últimos dias no Brasil, uma no Rio de Janeiro e outra em Bom Jesus, Piauí. O braço da organização internacional no Brasil pede à sociedade brasileira "tolerância zero a todas as formas de violência contra as mulheres e a sua banalização”.

 Menores negam participação
Em depoimento para promotora de Justiça Gabriela Almeida de Santana, os adolescentes negaram o estupro coletivo e relatam ter visto a garota sendo abusada pelo jovem de 18 anos, que estava na companhia deles. Eles também confirmaram que a vítima ingeriu bebida alcoólica e estava desorientada.

“Eu questionei se eles não fizeram nada para impedir e os quatro declararam achar normal o ato, mesmo com a vítima embriagada e sem condições de responder por si. Eles relataram com riqueza de detalhes a vítima reclamando da sensação de tortura e vomitando. Só que eu achei estranho alguém ir em uma obra abandonada para apreciar a paisagem, como os adolescentes alegam. Tudo indica que os menores combinaram a mesma versão e foram ao local para fazer uso de droga", revelou a promotora.

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