quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Menino amputa a mão para se ‘desculpar’ por insulto a Maomé

Em entrevista à 'BBC', garoto que amputou sua própria mão não se diz arrependido. Ele se tornou um 'herói' no Paquistão
Em entrevista à ‘BBC’, garoto que amputou sua própria mão não se diz arrependido. Ele se tornou um ‘herói’ no Paquistão
Um adolescente amputou por iniciativa própria uma de suas mãos após ter sido acusado publicamente de blasfêmia no Paquistão. O incidente aconteceu quando Qaiser (nome fictício), um jovem de 15 anos, entendeu errado uma pergunta durante uma celebração a Maomé realizada em uma mesquita na Província de Punjab, no leste do país.
Durante a oração em homenagem ao nascimento do profeta, o clérigo perguntou aos presentes: “Quem entre vocês crê em Maomé?”. Todos levantaram as mãos. Em seguida, ele questionou: “Quem entre vocês não acredita nos ensinamentos do santo profeta? Levantem suas mãos!”.
Qaiser entendeu errado a pergunta e, sem querer, levantou a mão.
Havia cerca de cem pessoas na mesquita, e o clérigo imediatamente acusou o garoto de blasfêmia. Qaiser voltou para casa e quis provar seu amor pelo profeta – amputando sua própria mão com um cortador de grama. Depois, ele colocou-a em um prato e apresentou ao clérigo.
“Quando eu levantei minha mão direita sem querer, eu percebi que havia cometido uma blasfêmia e precisava compensar tamanha afronta”, disse ele à BBC.
Após a atitude do garoto, toda a aldeia entrou em êxtase e pessoas de outros povoados vizinhos estão chegando para prestar homenagens a Qaiser. O clérigo, no entanto, foi preso, enquadrado na lei antiterrorismo do Paquistão – acusado de ter instigado o extremismo e o fanatismo religioso.
A “punição” que Qaiser deu a si mesmo tomou proporções inimagináveis para ele, que segue convicto de ter feito a coisa certa cortando sua mão.
Quando perguntado se sentiu dor ao amputá-la, ele disse que não: “Por que eu sentiria dor ou teria algum problema cortando uma mão que foi levantada contra o santo profeta?!”.
O incidente expõe a dificuldade de abordar o assunto ou debater qualquer tema religioso no Paquistão, um país onde 97% dos 200 milhões de habitantes são muçulmanos.
A blasfêmia é um tema bastante sensível no Paquistão, uma república islâmica, onde até as acusações sem fundamento podem gerar violência e linchamentos.
Segundo a repórter da BBC que acompanhou o caso, Iram Abbasi, o episódio do garoto é inédito no país, já que o adolescente não se considera uma vítima, e a família dele e vizinhos comemoraram sua automutilação.
Lei antiblasfêmia
Embora o governo tenha tomado medidas contra o extremismo religioso, muitas pessoas seguem adotando um discurso de fanatismo e influenciando a opinião pública para esse lado.
A Constituição define o Paquistão como uma república islâmica e, em 1984, o então líder do país, General Zia ul-Haq, colocou no Código Penal uma “lei antiblasfêmia” que inclui castigos de prisão perpétua e pena de morte para quem insultar o islã.
Entre as ofensas estão “profanar o Alcorão” e “difamar o profeta Maomé”.
Em teoria, as leis foram estabelecidas para proteger os costumes e tradições da sociedade muçulmana. Mas, na prática, elas têm servido como uma brecha legal para justificar vinganças políticas e pessoais entre muçulmanos.
Essas leis também costumam ser utilizadas contra as minorias religiosas do país, como os cristãos e os hindus.
E mesmo as acusações feitas sem prova podem instigar a violência e os linchamentos. Quando alguém é acusado de blasfêmia no Paquistão, tanto sua família como sua comunidade são vulneráveis a ataques de grupos que se sintam ofendidos por suposta ofensa religiosa.
Do outro lado, os críticos de vários países europeus têm pedido ao governo paquistanês que intervenha, modificando as leis e castigando os “instigadores” do discurso mais extremista.

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