Uma operação conjunta das polícias Civil do Maranhão e Piauí resultou na apreensão de uma criança que estava no mesmo salão de Umbanda, na zona rural da cidade de Timon, onde a menina Francisca Alice Silva Barreto, morta com indícios de intoxicação, teria passado por ritual de cura. A ação ocorreu nesta quinta-feira (5).
Delegado Lucy Keiko, de Teresina (Foto: Catarina
Costa/G1)
Costa/G1)
A menina apreendida foi trazida para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Teresina, onde prestou depoimento e confirmou que passou por um ritual de purificação em que são feitos cortes pelo corpo. “A criança é bem inteligente, mas não está estudando. Em depoimento, ela relatou como era feito todo o processo (do ritual). A menina contou que teve os cabelos cortados e marcas em forma de cruz foram feitas pelo pessoal do salão de umbanda durante um ritual religioso. Ela foi levada pelos pais para o local”, contou o conselheiro tutelar de Teresina Djan Moreira.
Após prestar depoimento na DPCA, a menina foi entregue aos cuidados do Conselho Tutelar de Timon, que está acompanhando a mãe da criança apreendida e vai continuar a investigação. A mãe não quis falar com a reportagem do G1. Uma filha da proprietária do salão de Umbanda, bem como seu advogado, também estavam na delegacia, mas também não quiseram falar com a imprensa.
Francisca Alice morreu no dia 28 de abril após 15 dias internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT), com suspeita de intoxicação e tortura que teria sido praticada durante uma cerimônia religiosa. Um dia antes de vir a óbito, profissionais do HUT suspeitaram do abuso e pediram uma perícia para Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Samvis). O resultado da perícia confirmou o abuso, bem como que a criança estava infectada com o vírus HPV (human papilomavirus).
Promotora Vera Lúcia (Foto: Catarina Costa/G1 PI)
A promotora de justiça da Vara da Infância e Juventude de Teresina,
Vera Lúcia Santos, que acompanha o caso também confirmou o estupro. Ela
disse que todas as crianças que frequentaram o ritual de cura vão passar
por exames para saber se sofreram tortura ou foram vítimas de abuso
sexual.
Conselheira Socorro Arraes (Foto: Reprodução/
TV Clube)
Conselho verifica se mais crianças foram abusadasTV Clube)
Três meninos que também teriam sido submetidos a ritual de purificação em um salão de umbanda, localizado a 20 km da cidade de Timon, no Maranhão, foram levados ao Instituto Médico Legal de Teresina (IML) e passaram por exames de corpo de delito na terça-feira (3). Segundo a conselheira tutelar Socorro Arraes, as suspeitas de abuso sexual e tortura não foram confirmadas pelos procedimentos.
“Foram feitos os exames e não ficou comprovado nem abuso sexual e nem agressão física. Essas crianças também estiveram no salão de umbanda e essa análise é justamente para saber se eles também sofreram lesões como a menina de 10 anos que morreu. Agora iremos encaminhar os resultados para o Ministério Público e para a Polícia Civil. Mais crianças continuam sendo investigadas”, contou.
Investigação
O delegado Luccy Keiko, gerente de policiamento metropolitano de Teresina, revelou ao G1 nessa quarta-feira (4) que a conclusão dos laudos sobre a morte da menina de 10 anos, suspeita de intoxicação e tortura em ritual, deve sair em 15 dias. Segundo ele, a perícia feita no corpo da criança deve apontar também quando ocorrreu o abuso sexual na vítima.
"A delegada Tatiana Trigueiro, titular do caso, vem tentando ao máximo agilizar o resultado dos exames feitos no corpo da menina e no líquido ingerido por ela. A informação repassada pelo IML [Instituto Médico Legal] é que os laudos devem ficar prontos até o dia 15 deste mês. Vamos aguardar, porque queremos apresentar um laudo final sem questionamento", contou o delegado.
Menina passou 15 dias internada no HUT (Foto: Fernando Brito/G1)
Sobre o casos de torturas em outras quatro crianças, o delegado informou que as investigações vão acontecer junto com a Polícia Civil de Timon, no Maranhão, local onde acontecia os rituais. Caberá ao estado vizinho apurar a responsabilidade do salão de umbanda.
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